Sobre o XI ENEI
É simbólico e significativo que a Universidade de Brasília inicie a segunda década do encontro sendo a sede, por ser pioneira na implementação nas políticas de cotas raciais, e gradualmente tem sido referência para indígenas que desejam ingressar no ensino superior.
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Atualmente, na UnB, são 273 estudantes indígenas matriculados regularmente em diversos cursos de graduação e pós-graduação, sendo 231 estudantes da graduação, 21 no mestrado e 21 no doutorado. Os dados demonstram que a inserção dos estudantes indígenas no ensino superior brasileiro tornou-se uma realidade palpável, graças, em grande parte, às políticas de ações afirmativas implementadas a partir de 2003. Essas políticas têm como objetivo corrigir as deficiências persistentes na educação ao longo de séculos, as quais resultam em desigualdades, sendo os povos indígenas especialmente afetados. Um aspecto crucial dessas desigualdades reside na comunicação das universidades, onde frequentemente nos deparamos com uma compreensão inadequada, levando-nos a adaptar à linguagem específica do mundo acadêmico para garantir nosso atendimento.
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Apesar dos avanços nas últimas décadas, a luta pelo acesso e permanência ao ensino superior continua. Os desafios persistem, principalmente devido ao arraigado racismo estrutural. Mesmo após duas décadas de presença indígena nas universidades, há ainda muito a ser desconstruído e construído, especialmente quando nos deparamos com a complexidade do reconhecimento dos indígenas como cidadãos capazes de transitar entre dois mundos, sem perder suas identidades.
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A diversidade dos povos indígenas brasileiros é crucial para compreender as necessidades educacionais dos estudantes indígenas. As universidades devem reconhecer e valorizar as culturas tradicionais, promovendo o diálogo entre conhecimentos indígenas e acadêmicos. Contudo, o processo de deslocamento por realidades distintas apresenta desafios, desde questões identitárias até a adequação de métodos de ensino. A resistência se manifesta também na superação dos estereótipos. Estudantes indígenas enfrentam questionamentos sobre sua "autenticidade" ao se afastarem de suas comunidades. Desconstruir essas concepções é vital para combater preconceitos e promover um ambiente acadêmico inclusivo. As políticas de ações afirmativas são estratégias cruciais nessa jornada, desestabilizando estereótipos e avançando na democratização do ensino superior. Contudo, é necessário enfrentar desafios como a evasão, choque cultural e a falta de programas efetivos de permanência, que incluam apoio psicológico, pedagógico e recursos para custear despesas essenciais.
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Neste encontro, a luta e resistência de nossos ancestrais que nos trouxeram aos dias de hoje, em que as gerações posteriores ocuparam e ocupam as universidades e espaços importantes de decisão, serão temas centrais, visando a criação de uma política de Estado, não sendo apenas de governo. A discussão sobre o retorno dos egressos às suas comunidades e o apoio à inserção profissional são passos fundamentais para garantir que a presença indígena nas universidades não seja apenas simbólica, mas efetiva e transformadora.
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Ao completar duas décadas, o XI ENEI não apenas celebra conquistas, mas também reafirma o compromisso de enfrentar desafios futuros, construindo um futuro educacional mais inclusivo e respeitoso com a diversidade cultural dos povos indígenas brasileiros.
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O XI ENEI representa uma oportunidade para ampliar as discussões sobre a inserção e permanência de estudantes indígenas no ensino superior, promovendo a descolonização do ambiente acadêmico; buscar formas de diálogo entre estudantes indígenas, pesquisadores, membros de comunidades e estudantes não indígenas é essencial para construir um processo educativo e inclusivo. Assim, o XI ENEI promoverá um espaço para avaliar e refletir sobre os 20 anos de inserção de indígenas nas universidades, o pensamento estratégico das lideranças do movimento de inserir seus filhos nas universidades, as demandas discutidas durante os 10 Encontros Nacionais realizados em diversos estados e universidades.
Destarte, a principal e central reivindicação do movimento indígena estudantil é tornar o Programa de Bolsa Permanência, do Ministério da Educação, uma política pública de Estado, pois trouxe e vai garantir a potencialidade da escrita dos povos indígenas nas universidades, sendo uma presença transformadora que se deve ter um olhar mais atento e diferenciado, gerando o fortalecimento entre gerações de profissionais indígenas de diferentes formações em diversas áreas das ciências.